quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A Barra do Douro

Onde o Rio acaba e o Mar começa...



Neste Inverno rigoroso que temos vindo a atravessar com muito frio, muita neve e especialmente muita chuva, ocorre-me hoje, pôr aqui algumas imagens que obtive na Barra do Douro, num destes últimos dias, em que o mar tem estado encapelado, e um pouco para sair, por agora, das imagens da neve.

Para todos os que me visitam e não residam no Porto, saibam que o Rio Douro , o segundo maior rio de Portugal, nasce nos Montes Cantábricos em Espanha. Atravessa Portugal por vales e montanhas, vindo desaguar no Oceano Atlântico a oeste da cidade do Porto. A foz do Rio Douro, local de cenários lindíssimos, os portuenses desde sempre conheceram como a BARRA DO DOURO.
"BARRA", entre outros significados que tem, significa também ...entrada estreita de um porto...
Antigamente, e ainda não vão muitos anos que deixou de ser assim, a cidade do Porto era uma cidade portuária. Efectivamente, na zona mais antiga da cidade, banhada pelo Rio Douro, e a que várias vezes me tenho referido em posts anteriores, existia um porto onde atracavam navios ou vapores(como se dizia antigamente).
O caudal do rio, em todo o seu percurso, é alimentado por vários afluentes. Em épocas de Inverno muito chuvosas, o caudal aumentava assustadoramente, provocando dois grandes problemas: As cheias e os naufrágios.
As cheias do Douro, algumas eram terríveis, inundavam as margens de todas as povoações, vilas e cidades, arrasando e arrastando tudo, incluindo os navios ancorados no porto, afundando alguns e arrastando outros para o mar. Ainda me lembro das cheias de 1961, 68 e mais recentemente as de 78.
No livro "ONDE O RIO ACABA E FOZ DO DOURO COMEÇA", de Sebastião Oliveira Maia, o capítulo - Verdades que o povo canta - ilustra bem este pavor que eram as cheias do Rio Douro antigamente (passo a citar) : -

Há muito perdi a conta
quantas vezes houve cheia,
mas há quem diga que monta
em sete dúzias e meia -

É assim que o povo ribeirinho conta, cantando, as suas desgraças...desgraças que as cheias do Rio Douro lhes têm trazido, e que, sendo tantas, umas fazem esquecer as outras. (fim de citação)

Quanto aos naufrágios, estes verificavam-se com frequência, especialmente à entrada da Barra.E porquê? Na altura de Inverno, com o mar sempre muito agitado, o forte caudal do rio, muitas rochas, a existência dum Cabedelo (língua de areia), junto à entrada, o qual ou alargava ou alongava, variando a profundidade do rio, tudo isto contribuía para esta entrada da Barra no Rio Douro fosse uma das mais perigosas barras da costa portuguesa. Muitos foram os navios que encalharam ali, arrastados pelas vagas poderosas do Atlântico contra os rochedos e bancos de areia, verdadeiras tragédias como diz Sebastião Maia, presenciadas ao vivo pelo povo, incapaz de poder acudir.
Ainda recordo bem o naufrágio do navio "Varna" em 1968...

Estes problemas hoje em dia estão de alguma maneira ultrapassados. O porto foi entretanto desactivado e actualmente serve de poiso para embarcações de recreio e de turismo no Rio Douro. Os pescadores da zona da Afurada, na margem de Vila Nova de Gaia, contam hoje com meios tecnológicos, que lhes permitem prever o estado do tempo e do mar, fechando-se a Barra e
alturas de risco, o que não quer dizer que cíclicamente não haja tragédias. Quanto às cheias, têm vindo a diminuir o tamanho, já que o caudal do rio baixou muito por força da construção de várias barragens no rio e afluentes, mas quando o mau tempo prevalece e a muita chuva obriga as barragens a descarregar mais água, tudo junto vem por aí abaixo, juntando-se à força da água do mar que entra pelo rio dentro e as gentes ribeirinhas vivem sempre tempos de angústia...

Para minorar estes problemas foram projectados dois novos molhes de ambos os lados do rio, juntando-se ao antigo que têm um farol e uma ronca para alertar de noite os barcos que passam ao largo, quando estão dias de chuva e nevoeiro intenso... A construção destes molhes foi alvo de muita polémica, já que o cenário da entrada da Barra era lindíssimo e a construção dos molhes viria alterar esta beleza. Alguns notáveis fozeiros, chegaram mesmo a contestar tal decisão, que parece por via disso, ter sido muito atrasada. Mas os prejuízos eram tantos, com as populações a serem invadidas pela água e as marginais a serem constantemente danificadas e restauradas que os molhes acabaram por vencer...com alguma dificuldade porque até o próprio mar não parecia deixar...isto eu apreciei, durante a construção, enquanto nos meus passeios a pé, na minha rota habitual junto ao rio e depois ao mar...

As imagens então, mostram a entrada da Barra em 2004, sem os molhes, (só se vê o velhinho molhe do farol) e o Cabedelo do lado de V.N.de Gaia, depois imagem duma vista aérea recente da entrada da Barra já com os molhes, seguindo-se imagens dos molhes do lado do Porto, batidos pelas ondas em dia de Sol e em dia de temporal...



Texto e Fotos:Lu

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